Terror

Os corredores estavam vazis a aquela hora. Encobertos pela penumbra da hora, era tarde para o sol e cedo para as luzes. Todo o lugar assoviava uma cantiga de solidão, exalava quase um desespero.
Os passos calmos ecoavam por todos os lados. Lentos e ritmados, quase indiferentes a solidão abandonada do lugar; quase.
A pequena, tão pequena era que parecia deslocada no grande ambiente serio. Nela havia um algo de inocente, um que de infancia. Aparentava mal ter saído do doce frescor da adolencia. Estranha a todo o lugar, acostumado com rostos mais experientes.
Sentou-se num banco e puxou da bolsa um livro. Queria distrair-se da quietude do ambiente. Mal percebera o olhar atento que seguia seus movimentos. Quase não notara a sombra ao longe que se movia de acordo com seus passos.
Fosse pela hora, pelo vazio ou, quem sabe, pela suspeita. Fosse por que fosse, olhava ansiosa por cima das páginas a cada linha. Cada som, cada luz, cada suspiro. Tudo era motivo de suspeita.
Talvez fosse a fala de companhia, talvez a falta de luz, talvez um presentimento, o certo era que o medo crescia dentro de seus olhos. Suspirou profundamente, tentando tornar-se dona de si novamente. Colocou delicadamente o livro de lado e parou.
Como quem espera um amigo ou convidado, a pequena andava com seus olhos de um lado para o outro. Vigiando ansiosa. A terrivel espera deixava-a nervosa. Preferia que tudo acontecesse logo, só não sabia o que deveria acontecer. Levantou impaciente, exasperada.
Começou a andar, ia até o final do corredor, fazia a volta e seguia até a bolsa sobre o bando, onde tornava a fazer a volta e seguir até o final do corredor. Como que nada acontecesse acalmou-se. Pegou a bolsa e começou a seguir até o banheiro. Os passos firmes e seguros, porém, não unicos.
Virou-se ansiosa para o corredor, vazio. Voltou o olhar para a frente, para os lados, tudo limpo, vazio. Tornou a andar, tornou a ouvir.
O medo, antes apenas especulação, tornava-se agora concreto. Seguiu mais rapido, foi seguida mais rapido. Não atrevia-se a olhar para trás. A confirmação dava-lhe mais medo que a suspeita. Avistou não muito longe a porta. Poucos metros, a separavam da segurança do banheiro. Podia trancar-se ali. Correu mais.
Ao tocar na maçaneta, sentiu ser tocada. Uma mão grande encoberta por uma luva negra cobriu-lhe a boca.
Enquanto a outra agarrou firmemente o pulso. Levou a mão solta para a boca, em uma tentativa frenetica para gritar por socorro.
Era tarde, gritava em sua mente. As mãos em garra eram firmes e resolutas, não deixariam-se enganar pela minima força da pequena. Não a mais o que fazer, pensou. Foi arrastada, e levada. Não conseguia ver quem a levava. Via apenas por onde passava. Reconheceu salas e corredores. Escadas, praças, e caminhos.
Lugares onde descançava com os colegas, onde tinha aulas, onde passava. Antes motivos de conforto agora motivos de puro desespero.
Não soube por quanto tempo. Apenas quando parou. Sabia onde estava, conhecia cada canto e cada lugar de toda aquela universidade. Era um lugar ermo, onde raramente os alunos iam, longe de tudo.
Não adantaria gritar, ninguem ouviria, os dois sabiam disso. O primeiro sorriu, a segunda chorou.
Chorou ainda mais com a força do aperto, a dor de ser jogada no chão. As lagrimas rancorosas e carregadas de sofrimento, escorriam livremente. Pela humilhação, pela dor, pela revolta, e por fim pela aceitação. O medo tornara-se raiva. A angustia, realidade. Tudo transformado em lagrimas e soluços trancados. Agora que chegara ao fim, esperançava pela liberdade. Era tudo o que restava-lhe, e tudo que queria. Liberdade.
Ele sorriu maldosamente. Suspirou satisfeito quando viu o medo retornar aos olhos dela. Uma das mãos agarrou-se ao pescoço, enquanto a outra trazia para junto da pequena um canivete. Mesmo na luz parca a garota pode perceber o brilho da lamina.
O desespero tomou-lhe o corpo. Não queria e não podia deixar aquilo acontecer. Debateu-se, esperneou, mordeu, estapeou. Embora nada adiantasse. Embora nada mudasse a vontade de ferro da besta que crescia no inteior do homem.
Um movimento de um único golpe.
Tudo cessou, a revolta acabou, a raiva extinguiu-se, o medo silenciou-se.
Só o sangue não parava, escorrendo indiferente por uma face sem vida.

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