Citação

"Não se preocupe tanto em 'entender'. Viver supera todo entendimento"
(Clarice Linspector)

Route 66

Vou caminhar até o horizonte.
Montar na minha moto,
violão vem junto no monte.

Seguir na estrada,
parando em casa,
de gente estranha.

Vou parar pra nada.
Viver em gandaia,
com meu violão!

Só tenho o asfalto.
Sem destino voo alto,
até raiar da canção.

Mudei o meu nome.
E assim eu vivo
na noite seguindo.
Sob as estrelas, e o som,
e só, e o violão.

Ao ver o sol crescer...
Cedo partir,
pra onde levar
o som e o ser.

Recadinho


Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mario Quintana

 
Das coisas pesadas, desfaça-se;
Das coisas leves,  reuná-as.
Enquanto os pesadelos ateiam firme nossos pés ao chão.
Os balões nos erguem para perto das nuvens!
E de nada adiantará uma vida presa ao chão,
 que não teve a emoção de ver tudo pequenininho...
Pois dos problemas que achamos
nenhum vamos levar, daqui para outro lugar.
E apenas as coisas leve e faceis restarão
no bolso furado, de um destino acabado.
Por isso, eu passarinho!

Preciso

"Viver não é preciso. Navegar é preciso" FP

Esqueça-se de tudo que é preciso e alinhado.
Tais coisas jamais te farão vibrar, rir, chorar, emocionar, enlouquecer.
Não precisar fatos e modos nos leva a loucura da realidade.
Nós força a viver intensamente.
Saímos desenfreados da rotina, e caímos desamparados no viver.
Viver é uma loucura.
Uma doce e potente droga que te vicia.
E você só quer mais viver, e viver, e viver ...
Você nunca sabe o que pode acontecer.
Você nunca sabe em qual esquina virar.
Ninquem te conta o que dizer, quando dizer e como dizer.
Ninguem te explica o que fazer, quando fazer e como fazer.
Viver é uma aventura sem destino certo.
Viver nunca é preciso.



para um amigo querido com dificuldade na imprecisão da vida.

Melodiosa nostalgia

Nostalgia que caminha devagar

vem com o tempo, trazida pela musica
musica lá de traz, já esquecida do agora
de quando eu ainda não era uma ilusão

A sanfona range sobre o peso do tempo
A melodia suave vem
primeiro tímida, depois com vigor
embalando a todos

Lembro-me de quem sou
E com um sopro de saudade
Ajudo a melodia a transpor o agora
A voltar ao passado
São todos levados sem hesitar

Não falam, não perguntam
so se deixam ser levados

Mas a musica finalmente acaba
e com ela minha magia
todos acordam do transe
mas a pequena semente da ilusão, foi plantada

Em um mundo de horrores
a nostalgia é a melhor ilusão

Tempo

Tempo que foi criado

Tempo que não existe
Tempo que se muda
Tempo que se segue

O tempo corre e não vemos
ele escorre por nos
como se não existissemos
Ele passa cada vez mais rapido

Sem se importar
Sem ver
Sem considerar por ao menos um segundo

O tempo passa, a ilusão continua
assim como eu, que continuo a ser apenas

B.

Medos

Dizem por ae que coragem não é não ter medo, mas ter a força para enfrentar os seus lobos. É conseguir seguir em frente apesar de todas as coisas.
Sentir medo é normal, e natural. Mas isso não torna mais suportavel o sentir, o ter. Ao crescer somos obrigados a enfrentar nossos medos, e muitas vezes desistimos, sem antes mesmo tentar.
De olhos fechados com medo de ver, com o coração escorregadio entre os dedos tremulos, os passos vacilantes e incertos, passei por um grande lobo.
No começo foi horrivel, depois pior, e por fim, calmo...
O lobo havia passado, o perigo estava ao passado e então como sempre ocorre nessas horas, você percebe o quão tolo foi por ter tido medo.
Nada mais disso me assusta, agora. Crescer, Responsabilidade, Faculdade, Trabalho. Palavras que me eram temidas, hoje são acompanhantes.
Continuo tendo medo, medo de errar, medo de não conseguir, medo de escuro, medo de perder quem amo, muitos medos. Mas eu sei que tenho a força para encara-lo nos olhos, talvez fechados, e passar  por ele, talvez com apenas um ou outro arranhão, mas viva.

Apaixonada.

Não que eu esteja, não é isso. É só que eu estava lendo e bom, o assunto me inspirou. Sempre inspira, na verdade. Desde, bom, desde sempre, me interesso sobre as atitudes das pessoas, mas não as atitudes em si, pois ela pouco significam. Sempre me interessei pelos motivos. O que move alguem a fazer algo?
Depois de ler muito sobre o assunto, cheguei a conclusão que a fé, o poder e o amor, são as coisas que mais movem as pessoas. Guerras, lutas, mortes, discuções interminaveis giram ao redor dessas questões.
E de todas elas, a que mais me inspira é o amor. E de todos os amores, o puro é o que eu mais admiro.

Eu não falo sobre amar, mãe, pai, filho, irmão, familia, amigos... Falo de amar alguem, um alguem especial, aquele que te da vontade de ser mãe, mulher.

Acho que amor é aquela coisinha boba que te faz sorrir sem porque. Que te da uma dor no peito, e um nó na garganta. Amor é aquela coisinha que te diz que sozinho você é feliz, mas junto, nada poderia ser melhor.
Amor é simples, e nunca pede muito mais que companhia. Companhia é boa, e nunca quer mais que somar, e multiplicar.
Amor é aquele doce gosto de primavera, e aquela agitação carnavalesca no estomago. Porque a gente descobre que borboletas não são indigestas, e nos da aquela cosseguinhas de felicidade.
Amor quando é amor, não faz mal a ninguem, não pede, não cobra, não diz, simplismente está ali por escolha. Porque amar alguem, é poder estar em todos os lugares do mundo, e em vez disso escolher deitar no sofá e ver um filme.
Amor é brega, cafone, e totalmente cliche. E quando se ama, se quer ser brega, cafona e totalmente cliche. Porque tantos já amaram, outros tantos foram amados. E já disseram de tantos jeitos, e já ouviram de tantos jeitos. E já mostraram de tantos jeitos, e já viram de tantos jeitos. Que parece tudo igual, sem originalidade.
Mas só quem ama sabe, que um sussuro de 'te amo' vindo da pessoa certa, é todo um poema unico e novo. Só porque foi dito. Só porque existe. Só porque se ama.

Bilhetinho....

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."

Mario Quintana

Alice in Wounderland

"- Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
 - Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.       
- Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.                                      
- Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.   "
Lewis Carroll

1° dia

Com os passos vacilantes e tremulos, sai do carro.
Segurei com força a alça da bolsa, e segui em frente. Um grito animado de meus pais ecou atrás de mim. Não me virei, não conseguiria, precisa continuar em frente.
Respirei fundo e atravessei o pequeno jardim a frente do prédio. Revirei minha bolsa procurando o pequeno papel no qual anotara o sala para a qual deveria ir.
Segui pelos corredores praticamente vazis a aquela hora.
Procurava ansiosamente a sala na qual teria minha aula.
Desci e subi escada, atravessei corredores. A cada sala errada o nervosismo crescia, e alcançava todas as partes de meu corpo.
O final do último corredor começa a se aproximar. É aqui, pensava comigo, vou encontrar.
E na última sala, do último corredor, finalmente, lá estava. Sala 801.
Suspirei aliviada. Espirei o aglomerado de estudantes igualmente ansiosos. Senti-me envergonhada, timida.
Respirei fundo. Juntei toda a minha coragem. Entrei na sala.
Ao fundo da sala estavam três homens de meia idade. Deviam ter uns 50 anos. Eles conversavam calmamente, com aquele tom manso de professor. Acalmei-me. Não era nada mais que outra aula. Desci os degraus fazendo o mínino de barulho possível. Eles notaram minha presença e pararam de conversar. Olharam-me ansiosos, tanto quanto eu.
Eles sorriram e me convidaram a entrar.
Relaxei. A tensão foi toda embora. Estava segura dentro da coisa que eu mais conhecia, uma sala de aula.

Cinema da vida

A fita roda depressa
O filme passa mudo
A vida anda preto e branco

Poorquinho



pequeno porquinho.

Como é feliz, não sabe, se quer desconfia do que está por vir. Feliz em seu cadeirão, nada lhe importa, nada lhe incomoda.
Oh se soubesses! Das grandezas e baixezas que estão por vir. Das alegrias e tritezas. Que diria porquinho, se soubesse que veio, apenas para chorar, sofrer e ficar? Quereria ainda continuar? Quereria ainda ter nascido?
Os anos passaram depressa, do cadeirão a cadeira foi apenas um piscar de olhos. Da cadeira para carteira uma pequena distração. E dai para fora. Fumaça, cigarro, poeira. Enxente, inundação. Pobreza, destruição. Ora pequeno porquinho, se te contasse, se ao menos eu soubesse...

Guardaria bem no fundo, em um segredo sussurrado, as alegrias, os risos, as belezas. Tão fugazes, tão pequenos, temo que um forte olhar as faça voar. E porquinho, depois de conhecer toda tristeza e azar, que faria se te sussurra-se a beleza?
Um pequeno sopro, não mais que um abrir de labios, e apatir deles, contar-te, os amores, os abraços, os sussuros. Contaria em um segredo guardado a sete chaves, as amizades, as bagunças, as manhãs, as tardes, as noite, os invernos e verões.

Depois de tanto gritar-te tristezas, sussurrei-te belezas. E agora porquinho, que farás? Quereria nunca ter nascido? Quereria continuar apenas para em um sonho de vã esperança vislumbrar por um segundo o sussuro da beleza? Aguentaria viver em tamanha bagunça para ver as manhãs? Preferiria continuar nas estrelas ao invez de nascer?

Pequeno porquinho, não temas, pois nada te contei, é tão pequeno, que mal sabes o que te espera. Mas já pisquei os olhos, e o porquinho, não é mais tão pequeno, e na proxima distração ele já foi-se.

Sorrindo eu fico, distraida. Sei que no fundo, ele viveria uma vida aos berros de horrores, para sentir, as vezes, o sussurar de uma beleza, de uma paixão de um nada tão bom.
No fim, creio que não falo de porquinhos, mas quem poderá dizer?

O futuro já passou

"Antes era a garotinha apaixonadaa..."
A velha música, tão conhecida minha, soa pelo quarto. É um belo fundo musical, me lembra de uma época despreocupada, em que as responsabilidades eram tirar nota na escola e voltar antes da meia noite para casa.
Mas o fundamental começou, durou e findou. O médio iniciou, perdurou e acabou.
Não sou mais menininha de colégio. Sem mais as interminaveis aulas de matematica e fisica. Nada mais de tardes ao sol, brincando com o cachorro. Ou noite inteiras com os amigos ouvindo musica. Nada mais de não estudar porque eu já sei. Eu não sei.
Nada mais é certo.Sou agora uma mulher, uma universitária com responsabilidades.

PUTA QUE O PARIU, desculpe,não queria dizer isso, não, minto, é isso mesmo. PUTA QUE O PARIU. Quem é que disse que eu queria? quem me perguntou? E se eu não quizer ser uma mulher? E se quizer continuar menina? Não posso?!

Suspiro e deixo-me cair no chão, cruzo as pernas e os braços, amarro a cara. SOU UMA MENINA! declaro ao mundo que me quer crescer. E as horas passam, e os minutos correm, e os segundos voam, e eu cresço. Droga!

Cresço inevitavelmente apesar da minha vontade. Não sou mulher, disso tenho certeza. Me falta a maduridade da experiencia, o tom suave e calmo. Não sou menina, meus olhos agora já são carregados de uma mistura de inocencia com sensualidade, não tenho mais bonecas, começo a aprender a brincar de faze-las.

Que sou então? Se não menina, se não mulher, perdida no meio, estou sem saber pra onde ir. Me puxam para mulher, quero ficar no menina. Ora, só me achem o caminho, ou pelo menos, deixem-me que eu me ache, assim então eu continuo... porque parada não me deixam, a vida, o tempo, o mundo.


Tentando me encontrar, entre o menina e o mulher.

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


Cecilia meireles

Impossivel genética

E tão rapidamente quanto eu...
E tão intensamente quanto eu...
Não sabia que era assim, não sabia que eu era tão parecida assim...
Não com ele.

De olhos bem abertos para ter a certeza que via e não sonhava, fiquei parada esperando. Esperando. Sabia o que aconteceria, já vira muitas vezes acontecer comigo. E então, como o esperado. O olhar de gélida furia. A explosão da raiva. O grito. E então, o vazio. Deixando para trás pela subita retirada do raiva.
Fiquei estática enquanto observava o espaço que, momentos antes, ele ocupava.
Com a força de um soco a epifania atingi-me. Eu era tão ele como sou eu. Ri da ironia. Tudo o que nele me irritava estava também em mim. Os mesmos gestos. Os mesmos sorriso. Até o tom era igual. O mesmo jeito de rebelar-se. O mesmo.
Maldita genética. Maldita.

Suspirei pesada, e deixei que minha cabeça caisse sobre a mesa. E só então, encoberta pelo silencio e por meus cabelos, é que deixei a força de suas palavras atingirem-me. Só então deixei as lagrimas rolarem. Só, então.