Embreagem

O ronco do carro rugia alto. A estrada está toda a minha frente. Acelero. Ganho o lugar. Sou dono do lugar. Estou em meu auge. Acelerar não basta mais. Quero além. O rugido silencia-se. Desacelero o passo. A estrada vai chegando ao fim, cada vez mais curta. O carro para. Voo.

Sepulcral

Sozinha no escuro, eu temo. Deixada para trás, eu grito. Depois de tanto tempo, não há mais voz. Nunca houve voz. Nunca houve ouvidos. No frio, sozinha, eu tenho medo. Há luz aqui. Tanta luz que me cega. Me ofusca. Me envolve no breu. Há ouvidos por perto. Eles ouvem. Não escutam. Há minha voz estridente que grita. Não há atenção ao meu grito. Ele se perde. No vento. No tempo. No momento. Na memoria. Se perde, no frio, no escuro. Se perde.



Principe

Não sonho com um principe montado em um cavalo branco, usando armadura, lutando contra dragões e desembanhando uma espada.
Sonho com um homem, montado em uma bicicleta, usando all star, lutando contra o injusto e desembanhando um livro. Sonho com alguem que entenda a beleza das estrelas, a simplicidade das nuvens, a necessidade das plantas, a bondade das pessoas. Sonho com conversas e risos, com beijos e abraços, com carinho e com paixão, com a eternidade do momento. Sonho com a realidade, não com um sonho.Sonho em multiplicar, compartirlhar; e não em subtrair e dividir.
Ele não é gordo ou magro, nem belo ou feio, não é alto ou baixo. Ele é do jeito que é. Inteligente e culto. Ele é unico sem o ser. Ele é diferente e igual. Ele é ele. Com todas as imperfeições e defeitos.

"Gostamos das pessoas por suas qualidades, mas as amamos por seus defeitos."

Velhice

Plec. Plec. Plec. Os chinelos arrastados ecoam. Plec. Plec Plec. Nada mais de pequenos pezinhos correndo pela casa. Plec. Plec. Plec. O andar cansado é vagaroso como condiz a idade. Plec. Plec. Plec. As brigas, gritos, risos adolecentes se foram. Plec. Plec. Plec. A casa aparece tão grande e vazia. Nhec. Nhec. Ouve o balanço da cadeira do marido. Plec. Nhec. Plec. Nhec. A sinfonia de sons espalha-se lentamente. Plec. Nhec. Depois de tantos anos, estam sós novamente. Plec. Nhec. Chega a sala onde ele repousa. Ronc. Plec. Plec. Ronc. Ele ressona calmo e tranquilo. Plec. Plec. Senta-se no outro canto, longe dele. Ronc. Ronc. Com a casa vazia, como irá olhá-lo. Ronc. Depois de uma longa vida juntos. Ronc. Estavam tão ocupados que não se prestavam atenção. Ronc. Ronc. Agora nada mais o impedia de olhá-la. Ronc. O que veriá? RONC. Foi então que ele acordou, e com os olhos bagos de sono, encarou-a e sorriu, como da primeira vez que viu-a. Devouveu-lhe o sorriso. Preocupara-se a toa.
Sonho em voar.
Em deixar esse mundo.
Seguir ao sabor do vento e derrepente mudar tudo com um rufar de asas.
Quero sentir o umido sabor das nuves.
Ver a macies de veludo das brisas.
Sentir a palidez dos relampagos.

Imagino um lugar onde eu faça o que quero.
Não há vendas cobrindo meus labios.
Não há proibições impedindo meus olhos.
Não há cegueira restringindo meu pensamento.

Abro bem os olhos para ter a certeza que vejo.
A rua abandonada não apresenta sinal de civilidade.
Estou correndo por ela com a velha bicicleta.
O vento bate rapido em meu rosto.
Abro a boca provando seu gosto, que se mistura com a chuva.
Sou quem quero ser.
Imagino que voo.
Sentei-me hoje no centro da sala. Sentei e esperei, o professor ainda não havia chego, por isso me concentrei em observar as pessoas a minha volta. Rostos familiares, pessoas conhecidas. Eu as via todos os dias, a maior parte do dia, e no entanto não as conhecia, não eram meus amigos. Todos se falam, riam, brincavam; enquanto eu estava lá, sentada abraçada a meus joelhos apenas com os olhos de fora, espiando o mundo. Tive, então, noção de ausencia, solidão. Uma unica lagrima correu minha face, e manchou meus joelhos. Uma mancha pequena e redonda. Solidão não é estar no meio de muito e sentir falta de um.
Solidão é estar sozinho enquanto todos estão juntos.

Trago

O dia está quieto. Uma música entra francamente pela janela, abalada pela chuva. Toco uma nota no piano. Ela preenche a sala. Ninguem por perto. Nada a fazer. Deito-me no sofá. Admiro o teto branco. A agonia do nada me rodeia. Estico-me e pego os comprimidos. Viros sobre minha mão; 20 ao todo. Como em um maço de cigarro. Sento-me no sofá. Jogo-os na boca. Engulo-os. Pego um cigarro no maço, o último. Acendo-o. Deito novamente. Trago calmamente; solto a fumaça para cima. Sopro-a para fora. Sopro meu nada para fora. É tão facil morrer. É tão simples soprar. Viver é dificil. Dificil demais para continuar. Trago e sopro; trago e sopro. Sinto que eles já começaram a fazer efeito. Agors, mal consigo manter o cigarro na mão. Trago. Não vejo a fumaça sair. Sinto a vida soprar. Soprar para fora.
Ando pelas ruas.

Vejo pessoas.

Todas iguais.



Andam sem ver o mundo. Tão concentrados estão. As cores lhes passam desnotadas. Se elas ao menos soubessem. Se elas ao menos vissem. No entanto, elas sequer olham. Tudo veem. Nada enxergam. O céu tem mil cores. Eu me maravilho com todas. Eles vislumbram apenas uma. Desintereçados estão na vida. No mundo.


A ausencia de vida me preenche.
Não vida minha. Vida neles. Sinto por eles. Jamais irão ver o mundo. Não conherão a vida. Não vão vive-la. Cometerão o crime de apenas passar por ela.

Estranho mundo mensuravel

"O índice de refração da luz em um meio depende do tipo de luz que se propaga, pois é inversamente proporcional á velocidadede propagação da luz. Por conseguinte, qualquer que seja o meio a natureza da luz vai aumentear ou diminir tal índice."
Abdico-me de explicações; fisica é inexplicavel!

Fim de tedio

Com um solavanco abri a porta e larguei a mochila no chão. Joguei-me na cama. Encarei o teto. O calor entrava pela janela aberta, não que eu pudesse impedi-lo de modo algum. Sentei-me. Tirei o uniforme. Atirei-o a um canto. Abri o chuveiro e deixei que a água lavasse meu cansaço. 1º dia de aula. Excitante por rever os amigos. Decepcionante pelas aulas. Fecho o chuveiro e me enrolo na toalha. Visto algo qualquer. Viro a mochila do avesso. Tudo espalhado pelo chão. Não há vontade alguma em mim. Suspiro. Começo a trabalhar. E lá se vai meu tedio. Burramente troquei-o pelo trabalho maçante de raízes e calculos. De relance olho a pilha que ainda devo fazer. O desanimo abate-me. Debruço-me sobre os calculos. A primeira tarde perdida.

Voar e querer

Olho pela janela. O céu cinza rodeia o sol fraco. É outono. Finalzinho de tarde. As estrelas logo tomaram conta do céu. Estou deitada no quintal, observando os pássaros, voando livres. Sonho em ter essa liberdade. Fecho os olhos e imagino-me voando. Posso até sentir o vento em meu rosto. A sensação de flutuar espalha-se sobre mim. Sinto o prazer de voar. Sinto que posso fazer tudo o que quero. É tão simples ser um pássaro.