Trago

O dia está quieto. Uma música entra francamente pela janela, abalada pela chuva. Toco uma nota no piano. Ela preenche a sala. Ninguem por perto. Nada a fazer. Deito-me no sofá. Admiro o teto branco. A agonia do nada me rodeia. Estico-me e pego os comprimidos. Viros sobre minha mão; 20 ao todo. Como em um maço de cigarro. Sento-me no sofá. Jogo-os na boca. Engulo-os. Pego um cigarro no maço, o último. Acendo-o. Deito novamente. Trago calmamente; solto a fumaça para cima. Sopro-a para fora. Sopro meu nada para fora. É tão facil morrer. É tão simples soprar. Viver é dificil. Dificil demais para continuar. Trago e sopro; trago e sopro. Sinto que eles já começaram a fazer efeito. Agors, mal consigo manter o cigarro na mão. Trago. Não vejo a fumaça sair. Sinto a vida soprar. Soprar para fora.

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