Desabafo

Vejo todos os dias amigas minhas se apaixonando, e sendo retribuidas. São mulheres simples e faceis de lidar. Não são menos por isso, apenas diferentes de mim.
Sempre considerei-me uma louca. Uma louca com dupla personalidade. Nunca fui fácil de lidar. Admito isso. Sempre mudei de mais em tempo de menos. Sei que isso não é bom. Como alguem dia algum poderá amar uma pessoa que não é a mesma nem sequer durante uma hora.
Tenho altos e baixos. Euforia e depressão. Super alto-estima, incrivel baixa-estima. Sou os dois polos de um mesmo imã que se atrai e se repele.
Há horas em que sou o ser mais repugnante, egoista, consumista, burgues, taxativa possível. E eu gosto disso. Gosto do glamour, da elegancia, da sutileza, da maldade, gosto do ter.
Há horas em que eu quero mudar o mundo, torná-lo um lugar melhor, defendo meus ideais até a morte, sonho com justiça, liberdade, não consigo negar uma ajuda, simplismente abomino o capitalismo, torno-me uma pessoa critica, perpicaz, com profundidade de pensamento. E eu amo isso. Amo os ideias. Amo a ideia de ter a força e o porder para ajudar as pessoas e mudar o mundo, amo pensar sobre os assuntos mais complexos e descobrir coisas novas, amo aprender, amo ser.

Gostaria so de saber, não precisa acontecer, não precisa ser agora, mas eu gostaria de saber, se é possivel amar alguem como eu, que na verdade só é constante em ser inconstante. Gostaria de saber se é possivel me amar. Uma garota ideialista, consumista, sonhadora, profundamente complexa, apaixonada, cruel, chorona, fraca, forte, maldosa e inteligente.

nada mais que divagações de uma louca.

Oculos

Enxergo tolida através de lentes sujas e foscas. O mundo me parece cinza e sem vida. As crianças correm sujas, descuidadas, puídas. As ruas barrentas espirram pó. Até as árvores parecem marrons. Vagueio em circulos à procura da água. Quero, preciso limpar as lentes. O mundo é sujo atrás de minha apatica visão. Espero a chuva. Espero que lave meus oculos, lave o mundo. Afogue o cinza, limpe o marrom, acente o pó.
A chuva cai.
Meus oculos limpos me permitem ver a sujeita à minha volta. O mundo é preto e cinza. As crianças andam ao lado de velhos. Eles as abraçam de modo apetitoso. As mães caminham atrás, carregam pequenos esqueletos de fome. Querem assegurar-se do pagamento.
Caidos no chão homens rolam entre bebidas. São apenas cadaveres fetidos. Afogados em seu amor. Pisados, massacrados.
Não há pessoas. Fantasmas vagam e habitam.
Caço na terra alguma cor, algo que não esteja tomado pelo cinza, pelo pó.
No meio do nada todo destruido. Ao centro do antro. Uma pequena ruína, iluminada por uma palida luz da lua, guarda vida. Uma viva flor do campo, iradia o vermelho. Mantém viva a vida.
Torno-me guardiã da pequena flor, minha esperança de água.
14/02/2050

Prisão



Pressionado no canto de minha cama, sufocado pelas paredes. Encaro a janela: uma fenda incrustada no alto da parede. Raros raios de luz chegam até mim. Quase posso ver uma fresta de céu. Olho para dentro, para todo o meu mundo. Quatro paredes, uma cama, uma goteira, eu e os mofos. 1,2,3,4, acabou. Chego ao precipicio. Meia volta volver. 1,2,3,4, fim. Outro barrando. As paredes fecham-se sobre mim. O mundo diminiu. Vou sumindo no nada da escuridão. Sou absorvido pela rigidez do frio, pela imensidão do mundo. Não apenas integro o mundo, sou-o. 1,2,3,4. Caem as gotas. Ecoam no espaço. Ruem a tranquilidade. Sentado a cama admiroo meu mundo. Sou tudo que há para ser aqui. Sou os escritos da paredes. A goteira no chão. O solitário raio de sol. O ar foge pela fresta. Deixa-me cada vez mais todo no mundo. As gotas sobem do chão. Escorrem para a torneira e para longe de mim. Até mesmo a escuridão esvai-se.

Deixam-me só com o espaço. Só o espaço não me deixa. Nem poderia. Está atrelado a mm. Amarrei-me a ele para que não me deixasse. Não deixarei que parta. Não me deixará só. As paredes andam. 1,2,3,4. Passos lentos de gigantes. Fecham-me só no espaço. Todo o mais para vagar. Sobrou-me o nada e o espaço, nem a luz restou. Não abro a boca e sinto meu grito ecoar. 1,2,3,4. Não abro os olhos e vejo o nada. 1,2,3,4. Não sinto nada e ouço minhas lagrimas caírem. 1,2,3,4. Não sento e percebo a cama abaixo de mim. 1,2,3,4. O mundo cada vez menor. O espaço só escorre-me. As paredes encolhem-no. Só resta-me uma fresta só. Só no nada, só. 1,2,3,...




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Dia pacato. Simplismente parado. Um dia amarelo por assim ver. As nuvens correm lentas pelo vento. As árvores sombream leves. O tempo vagueia com a vida. Uma criança corre pelo parque. Um coração de mãe aperta-se preocupado. Tudo tem um leve tom de antigo. Tudo tem uma suave pincelada de antes. Como quando o mundo era um lugar parado. A brisa refrsca o lugar. O balanço range. Uma sinfonia composta pela vida simples. Voltando ao tempo. Estamos em um raro dia parado.

Baile

O frio da madrugada vai dissipando-se. Dão lugar aos primeiros raios da manhã, que entram atrevidos por minha janela, iluminando fracamente meu quarto desorganizado. A confusão a minha volta traduz-me. Olho rapidamente a minha volta. Não dou muita atenção a nada, nem a bagunça, nem ao sol.
Nada mais importa. Nada faz sentido algum. Tudo parece tão vago, tão distante. Tudo está tão ilusório. Porque importar-me com o amanhã? Porque dar atenção ao agora? Eu ficará no passado. Deixada na noite anterior. Parei no tempo não quero prosseguir.
Volto a encarar meu teto com suas estrelas. Havia passado assim toda a noite. Não me dera o trabalho de tirar o meu belo vestido de baile. Não soltei meu cabelo de seu complicado penteado. Sequer cobri-me e por isso agora estou fria.
A luz finalmente alcança meu olhos e a claridade ofusca-me, pisco para fazer meus olhos acostumarem-se com a nova luminosidade. Ouço um fino e agudo bip, que agrava minha dor de cabeça. Viro-me para o relógio que apita avisando-me que já são 6:00. Devo levantar-me e arrumar-me para mais um dia de aulas.
Apesar de toda minha dor de cabeça, todo o meu corpo dolorido, toda a humilhação da noite anterior, todas as minhas expectativas e vontades, levanto-me e sigo para o banheiro.
Tateio em busca da pia. Os olhos fechados, receosos do que irão ver. Abro vagarosamente os olhos em frente ao espelho. Minha visão ainda turva. Aos poucos enxergo melhor e encontro-me muito melhor do que esperava.
A maquiagem escorrera quase toda devido ao choro compulsivo. Olheiras arroxeadas por baixo de meus olhos cinzas. O penteado intocado, os vários grampos prendendo- o firmemente a minha cabeça, agravando minha dor.
Comecei a solta-los e logo formavam uma pilha sobre a pia. Ao terminar de tira-los meu cabelo cai solto até minha cintura. A dor de cabeça diminuiu mas não deixa-me. Dirijo-me ao chuveiro.A água cai, afasto-me enquanto espero que a água esquente. Levanto minhas mãos até o alto de minha nuca. Desfaço o nó que prende meu vestido. Ele escorrega até o chão.
O vapor da água quente preenche todo o banheiro. Tiro a única peça que cobre meu corpo. Uma pequena calcinha de renda negra. Lamentando te-la comprado. Agora não tem serventia alguma.
Caminho para o chuveiro. Mergulho minha cabeça embaixo da ducha quente. A água corre rápida por meu corpo.
Aos poucos relaxo. Os músculos ficam menos tensos. Deixo, finalmente, que as lembranças invadam-me.




- Divirta-se querida – gritou mamãe enquanto eu me dirigia radiante para a entrada do baile que estava abarrotada com os alunos do colégio
Eu estava concentrada procurando por alguém em especial por isso não notei quando esse certo alguém se aproximou sorrateiramente por trás de mim, não até que ele se pronuncia-se :
- Você esta muito bela hoje – ele disse com um sorriso encantador, o charme sedutor, irresistivel
- Muito obrigada, você também está muito bonito – eu sorri, feliz por não mais ficar vermelha em sua presença
-Que tal entrarmos? – e ao me ver arrepiada acrescentou – Esta frio aqui fora, venha! – e dizendo isso me envolveu com seus musculosos braços em um aconchegante abraço
Eu já havia me decidido, aquela noite daria a ele, o que ele tanto queria. Mas ainda não era a hora para falar sobre aquilo, eu iria dizer ao final da noite, pouco antes de ele me levar para a minha casa.
Aquilo estava me deixando ansiosa, toda aquela espera. Mas ao longo da noite me acalmei, ele foi como sempre, tão perfeito, tão sedutor, que não havia como eu me sentir aflita ao seu lado.
Certa hora avistei minha melhor amiga conversando animada com outras duas garotas, e resolvi que era hora de contar-lhe o que eu havia decidido. Pedi a ele que esperasse um pouco, e me dirigi a onde minha amiga estava. Chamei-lhe a um canto e confidenciei em voz baixa :
- Vai ser hoje a noite, depois do baile – ela olhou-me confusa por um momento e depois uma luz de entendimento iluminou-lhe
- Então você finalmente se decidiu – ela me olhou desconfiada, como se não acreditasse - Espero que esteja muito certa disso.
- Não se preocupe, eu estou – por um instante ela me olhou desconfiada, mas após ter certeza da minha resolução relaxou e me piscou de forma maliciosa
- Quero os detalhes sórdidos amanhã – começamos a rir juntas de forma compulsiva
Enquanto riamos nos viramos para meu namorado, esperava encontrá-lo sorrindo feliz para mim como sempre fazia quando eu me retirava para conversar com minha mais antiga e melhor amiga
Mas daquele vez não vi seus olhos assustadoramente verdes brilhando em minha direção. Não vi seus maravilhoso sorriso recheado de dentes brancos. Nem seu costumeiro aceno animado para mim ou o meneio de cabeça em direção a minha amiga. Não vi seu charme irresistível. Nem sequer seu encanto paralisante.
O que vi foi algo que me deixou paralisada sim, mas não foi seu encanto. Sem qualquer vestígio de fala ou movimento. Vi meu mundo ruindo a minha volta. Vi tudo que apreciava e me era caro se tornando pequenos farelos jogados ao vento.
Meu queridíssimo e perfeito namorado estava se agarrando descaradamente com sua belíssima e muito popular ex- namorada.
Uma garota que ele me garantia nunca mais querer ver, pois era incrivelmente fútil, egoísta e sem cérebro. Pois era essa garota, fútil e ridícula, que ele estava agarrando na frente de todos, inclusive de mim.
Minha amiga se precipitou em minha direção. Fui mais ágil. Antes que ela me alcança-se eu já estava indo em direção aos dois. Andava calma e friamente. Minha mente completamente vazia. Ele está me traindo. A frase soava em minha mente. A frase soava como um mantra. Chego aonde os dois se agarravam.
Estavam tão entretidos no que faziam que sequer notaram minha presença. Toquei no ombro de meu EX- namorado, fazendo com que ele largasse a garota e me olhasse. Seus olhos estavam desesperados. Vazios, chocados e preocupados. Não abalei-me
- Acho que isso pertence a você – e calmamente tirei a aliança de meu dedo e entreguei-a para ele. – Acho que isso é tudo. Adeus. – dei-lhe as costas e sai dali andando resoluta em não olhar para trás muito menos anuviar minha expressão ou marchá-la com lagrimas, caminhava calmamente para a saída, com um sorriso amistoso no rosto, mas esse nunca chegou a meus olhos.
Atrás de mim, podia ouvir claramente os gritos de meu ex-namorado, dizendo que era tudo um grande engano e que me amava, que aquela garota o havia agarrado. Também podia ouvir os gritos de minha melhor amiga que corria atrás de mim para me consolar, bem como o de outras pessoas, mas minha mente estava tão confusa que não pude distinguir muita coisa.
Quando ela conseguiu aproximar-se de mim, eu virei-me para encará-la. Continuava com o expressão calma e relaxada, como se nada estivesse acontecendo. Pude ver que meu ex vinha correndo em minha direção, não dei-lhe atenção, em vez disso virei-me para minha amiga e disse-lhe:
- Eu estou bem, juro! Estou cansada e vou para casa, amanhã conversaremos melhor, está bem?! – dei-lhe um suave beijo no rosto, me virei e sai
Pude perceber que as minhas costas, meu ex continuava a gritar, mas minha amiga o impedia de continuar seu até mim. Abri a porta. O vento frio me atingiu com força total, um arrepio subiu por minha espinha. Avancei mais alguns passos e soltei a porta que bateu com força atrás de mim.
Em meio ao vento frio que agitava meu vestido, minha alma. Permiti que as lagrimas manchassem meu rosto. Envolvi meus braços em torno de mim, em uma tentativa de conforto. Comecei a curta caminhada de volta para casa.

Nada mais

Morro. Não vejo, nem sequer vou vista. Nada muda, afinal, não sou nada além de espaço ocupado por massa. Não mudo nada que não nada, pois pertenço ao nada. Sou parte do todo. Integro tudo a minha volta, sem no entanto fazer parte de mim. Isolo-me do todo. Não o quero. Quero o nada, que integra-me. Quero o nada que une-se a mim.
O todo não importa-se. Faz apenas embelezar, atrair e deixar. Faz vitimas. Faz rastros. Destruindo a tudo que deixa. Deixa apenas o nada. Partido, acabado. Ansiando pelo novo. Procurando o próximo. Aumenta o montante de sangue. De nadas.
O nada dignifica. Só existimos sós. Só existimos nós. No nada, imersos em si. Descobertos do todo. Vemos a nós. Vemos o nada. Altero o mundo nada a minha volta. Pois apenas isso que sobrou-me, nada.
Sou o tudo do nada. Sou tudo no nada. Sou tudo aquilo que nada quer ser. Voo e deixo voar. Mando. Morro e venço a morte. Porque sou nada.