Oculos

Enxergo tolida através de lentes sujas e foscas. O mundo me parece cinza e sem vida. As crianças correm sujas, descuidadas, puídas. As ruas barrentas espirram pó. Até as árvores parecem marrons. Vagueio em circulos à procura da água. Quero, preciso limpar as lentes. O mundo é sujo atrás de minha apatica visão. Espero a chuva. Espero que lave meus oculos, lave o mundo. Afogue o cinza, limpe o marrom, acente o pó.
A chuva cai.
Meus oculos limpos me permitem ver a sujeita à minha volta. O mundo é preto e cinza. As crianças andam ao lado de velhos. Eles as abraçam de modo apetitoso. As mães caminham atrás, carregam pequenos esqueletos de fome. Querem assegurar-se do pagamento.
Caidos no chão homens rolam entre bebidas. São apenas cadaveres fetidos. Afogados em seu amor. Pisados, massacrados.
Não há pessoas. Fantasmas vagam e habitam.
Caço na terra alguma cor, algo que não esteja tomado pelo cinza, pelo pó.
No meio do nada todo destruido. Ao centro do antro. Uma pequena ruína, iluminada por uma palida luz da lua, guarda vida. Uma viva flor do campo, iradia o vermelho. Mantém viva a vida.
Torno-me guardiã da pequena flor, minha esperança de água.
14/02/2050

Nenhum comentário:

Postar um comentário

findwords