Beleza prisioneira

Calida cresce no jardim
Resplandecente e bela
Porém, só.

A pequena olhou-se no espelho e sorriu com a imagem, tinha noção de quão bela era. Odiava-se por isso. Deixou que seus olhos corressem janela a fora. A irmã ria feliz e livre ao lado dos cachorros. Ela corria, eles seguiam. Ela mandava, eles obedeciam. Ela brincava, eles amavam-na. Quanto a si mesma, só podia observar.
Ambas recebiam a mesma educação, mas enquanto a irmã lia sob a sombra das árvores cercada pelos cachorros, pelos pássaros, pelo vento; ela lia recostada a reclusão de seu quarto.
"Meu pequeno tesouro", dizia sempre o pai, "uma verdadeira joia". Lindo rosto, linda voz, tudo lindo. E como qualquer bom tesouro, ficava só e trancada, longe de tudo, longe de todos.
-Sou seu tesouro, mas ela é seu amor. Pensava rancorosa.
Recebiam tudo de igual. Mesma roupas, mesmos livros, mesmos presentes.
Mas uma corria livre, e a outra esperava complacente.
Desejava ser normal. Deseja ser meio feinha. Deseja ser desafinada. Deseja ser a irmã.
Odiava sua beleza encantadoura. Os sorriosos cobiçosos. O espaço restrito. Odiava ser a perfeitinha bela. A princesinha do alto da torre.
Queria a feiúra livre do vento.
Queria a desafinação pulsante da liberdade.
Queria a cima de tudo não ser bela, para ser apenas ela.

Baboseira romantica

Delicada ela pousou
Gentilmente ela ficou
Humildimente retirou-se

Fugaz borboleta.
Fugaz vida.
Efemêro amor.

Quiçá ela volte
Quiçá ela fique
Quiçá eu implore

Suspiro por vida,
por amor
por ela

Suspiro pedindo que fique
Humilde que me ame
Implorando o gentil beijo
De um amor que voa deliciado

Revolta

A água bate na pedra,
a vida bate na água;
E eu bato na vida.

Bato e rebato,
inútil!
É só outra defesa,
inútil!

Apanho, não bato;
Reapanho, não ajo.

Bato apenas no mundo
É o único que se mantém.
Mantém-se?!
Nada fica,
E o mundo se vai...
E a vida volta...
E eu continuo só,
só apanhando!

Novidade!

O cheiro da mudança
A felicidade pequenina
invade a sala e instala...

O aroma de chuva flutua
Tudo ilumina-se novamente:
As cores acordam fortalecidas,
um novo dia começa como o outro que terminou,
diferente!

Um carinho, um abraço, quem sabe,
é um amor, é um amigo.
É tudo que quizer que seja

As nuvens espalham-se, evaporando o passado
As estrelas iluminam-se, juntando o presente

A música preenche o eco do mundo
diz tudo o que sente,
quer,
ver,
ser,
é.

Como um sopro.
De mãos unidas.
As almas voam.
Seguem para a sala.

Um poema de amor


Homenagem a um amigo muito querido que escreveu esse poema:

 

 

Hoje eu te espero;

Mas sei que um dia,

Você será minha, e

Dormirá em meus braços

 

Procuro, na medida do possível,

Controlar meus sentimentos que me

Levam a beijá-la desesperadamente

Mas eu suporto, eu aceito.

 

Hoje, eu te espero;

E treino, para melhor satisfazê-la

No momento em que o

Seu caminho cruzar o meu

 

Momento este em que

Pode o céu desabar ou o chão

Sob meus pés desaparecer;

Somente você ocupa minha mente.

 

Sim; hoje te espero;

Mas ainda te tenho e te amo

Te tenho com a certeza que pode ir

Porém, te amo com a certeza que voltará



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O heroi aposentado

As pernas frágeis e tortas bambeiam arrastando o corpo enrugado. Ali vão mais de 80 anos. Os olhos baços passam por mim sem realmente ver-me. Ele encara o vazio de lembranças, as memórias deixadas pelo tempo.

Apoiado em mim ele caminha, sem sequer lembrar meu nome ou reconhecer minha face. Não consegue ao menos segurar o copo de água para matar-lhe a sede. As lagrimas escorrem-lhe a face sem vergonha, é velho demais para sentir timidez.

O gigante dos meus sonhos é agora apenas um velho enfraquecido. O tempo finalmente levou a melhor, e dia-a-dia ganha a luta que todos travamos desde que nascemos.

Embora fraco vejo no fundo dos olhos parcos, um brilho, uma força, uma sombra de tudo que foi. Uma sombra que luta para continuar a acordar e que não se deixa vencer.

O velho avô que antes me punha nos ombros e me contava histórias hoje mal consegue reunir forças para dizer meu nome.

Perdido em meio a suas lembranças ele sussurra histórias que conheço décor, mas que ouço ainda, ansiosa por mais. Rio das mesmas piadas e surpreendo-me com as mesmas aventuras.

Meu herói aposentado, meu bom velhinho, meu avô.

Suspiro cansada e feliz, sentada a seu lado. Mais um dia a seu lado, cuidando e tomando conta do homem que antes cuidou de mim.

Hoje seguro sua mão e lhe conto histórias, apenas porque ontem ele segurou a minha e me fez continuar a andar, me fez não ter medo.

Dou-lhe um beijo de boa noite e encosto a porta, deixando uma brecha para a sua entrar.



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Grito de socorro

Uma feriada de sangue a céu aberto. Ela ficou ali. Encrustrada em meu peito. Ninguem via-a. Mas eu sentia-a pulsante. Vida, dentro de mim.
Um pequeno buraco negro que me puxava. Em todas as direções, e todas erradas. Levava-me para longe do meu caminho. E deixava-me sozinha no escuro que eu me transformava.
Cada vez mais negro o mundo ficava. Cada vez mais sozinha eu ficava. Estava me tornando aquilo que mais tinha medo.
O vazio. O nada. E a culpada era eu. Tinha medo de me curar. Tinha medo de me transformar. Mas tinha mais medo de voltar ali. Não me parecia tão ruin continuar. Me parecia tenebroso voltar. Me parecia insuporvatel volter. Me parecia mortal.
A ferida aberta, as vezes crescia, as vezes voltava ao normal. Mas nunca diminuia. Mas nunca voltava. Mas nunca fechava.
Tres anos ela ficou ali. Grande e imensa como começara. Sem mudar, sem deixar.
Ouvia sussuros que tentavam me tirar dele. Mas a maior das tolas, a maior das medrosas, agarrada estava, e não me deixava tirar. Segurava firmemente a ferida. Ela me moldava, me dizia quem eu era. Me definia.
Até que sem querer, até que sem deixar. Um pedacinho dela foi curado. Algo maravilhoso, terrivel, assustador e incrivelmente... bom.
A sensação foi incrivel, e a alegria foi inssuperavel.
Voltei a me lembrar de como era antes.
Voltei a ser o que era antes.
Antes de não ser eu.
E percebi, que muito pior que voltar ali, para a ferida, era continuar nela.
Que me matava pedaço a pedaço.
Que me tirava pedaço a pedaço.
E o medo voltou. Medo de ficar. Medo de não sair.
E veio o choro. E veio o grito.
Mas o grito não ecoou sozinho no buraco, na feriada.
Ele voltou diferente, voltou respondido.
E ao redor, o escuro cedia.
E eu até podia ver minhas mãos.
E as luzes se aproximam.
Ainda não posso ve-los.
Mas reconheço as vozes.
Vai demorar.
Vai doer.
Vai ser lento.
Mas começou!

2010

Inicio de ano. Inicio novo. De novo.
Uma chance a mais de errar. Mil chances a mais de tentar aprender.
Tudo de novo. Novo. De novo.

Fecho os olhos. Um ano inteiro virou um filme mudo.
Abro os olhos. Um ano inteiro transforma-se numa vida vibrante.

Um sussurro de vida me sopra uma verdade.
O não tenha medo da morte. Tenha medo da vida não vivida.

Levanto-me e encaro o presente nos olhos.
Um desafio a mais. Uma montanha a mais.
Um sorriso a mais. Uma vitoria a mais.

Começo a andar.
Começo a sonhar.
Tenho vida a viver.