Grito de socorro

Uma feriada de sangue a céu aberto. Ela ficou ali. Encrustrada em meu peito. Ninguem via-a. Mas eu sentia-a pulsante. Vida, dentro de mim.
Um pequeno buraco negro que me puxava. Em todas as direções, e todas erradas. Levava-me para longe do meu caminho. E deixava-me sozinha no escuro que eu me transformava.
Cada vez mais negro o mundo ficava. Cada vez mais sozinha eu ficava. Estava me tornando aquilo que mais tinha medo.
O vazio. O nada. E a culpada era eu. Tinha medo de me curar. Tinha medo de me transformar. Mas tinha mais medo de voltar ali. Não me parecia tão ruin continuar. Me parecia tenebroso voltar. Me parecia insuporvatel volter. Me parecia mortal.
A ferida aberta, as vezes crescia, as vezes voltava ao normal. Mas nunca diminuia. Mas nunca voltava. Mas nunca fechava.
Tres anos ela ficou ali. Grande e imensa como começara. Sem mudar, sem deixar.
Ouvia sussuros que tentavam me tirar dele. Mas a maior das tolas, a maior das medrosas, agarrada estava, e não me deixava tirar. Segurava firmemente a ferida. Ela me moldava, me dizia quem eu era. Me definia.
Até que sem querer, até que sem deixar. Um pedacinho dela foi curado. Algo maravilhoso, terrivel, assustador e incrivelmente... bom.
A sensação foi incrivel, e a alegria foi inssuperavel.
Voltei a me lembrar de como era antes.
Voltei a ser o que era antes.
Antes de não ser eu.
E percebi, que muito pior que voltar ali, para a ferida, era continuar nela.
Que me matava pedaço a pedaço.
Que me tirava pedaço a pedaço.
E o medo voltou. Medo de ficar. Medo de não sair.
E veio o choro. E veio o grito.
Mas o grito não ecoou sozinho no buraco, na feriada.
Ele voltou diferente, voltou respondido.
E ao redor, o escuro cedia.
E eu até podia ver minhas mãos.
E as luzes se aproximam.
Ainda não posso ve-los.
Mas reconheço as vozes.
Vai demorar.
Vai doer.
Vai ser lento.
Mas começou!

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