Para minha pequena sonhadora

Sozinha no escuro, o vão da escada me olha de cima. Vejo o mundo. O mundo me vê. Não me vejo. Há tudo entre eu e mim. Há tanto que sequer posso ver-me.
Cega pelos olhos do mundo, tudo o que vejo está refletido através de um falso espelho. Mostra apenas o que querem ver. Revela apenas as máscaras. Nada de pessoas. Ninguém é humano.
Chove lá fora. Além do vermelho de meu guarda-chuva, o céu chora. O mundo está a minha volta. Tentam salvar-se da chuva. Mas ela, impiedosa, lava-os a alma. Minha visão desimpedida vê a mim mesma. Estou fora de mim e fora do mundo. Por ser humana.
Entrevejo a mim mulher. Caminhando continuamente até o fim do mundo. Busca aventuras, romances, uma vida. Um relance de menina que aninha-se no seio de uma família. Um vislumbre de garota esperta e apaixonada pelo mundo.
Tenho cometas e constelações por amigos. O mundo de palco. A maldade de sapatos. O glamour de vestimenta. A mudança do mundo no coração.
Volto ao mundo. Paro na frente do espelho. Lavada de chuva. Só o que vejo é um olhar limpo acompanhado de um sorriso misterioso.

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